segunda-feira, 25 de maio de 2015

Impressões rápidas - "Estratosférica" - Gal Costa


Senhores, olhem a cabeleira da baiana

O novo disco da Maria das Graças Costa Penna Burgos, mais conhecida como Gal Costa, não surpreende como o anterior, “Recanto”, mas é uma beleza de se degustar. Ao ouvir a primeira faixa, você tem a impressão de que ela voltou aos anos 1970 e lhe entregará canções com pegadas rock. Não se engane, apesar de “Sem Medo, Nem Esperança” trazer referências da época do “Fa-Tal”, o resto do trabalho é calmo.

A baiana reuniu um apanhado de músicas de compositores que nunca tinha trabalhado com canções de artistas já carimbados em álbuns passados (sim, há uma composição de Caê entre elas). A faixa título é da cantora Céu em parceria com Pupillo (Nação Zumbi) e Junio Barreto. Uma delícia. Tem também Milton Nascimento e Criolo (“Dez Anjos”), irmãos Camelo (Espelho D`água”), Mallu Magalhães (“Quando Você Olha Para Ela”) e Jonas Sá e Alberto Continentino (“Casca”).

Com a voz cada vez mais grave, os agudos já não precisam se evidenciar em seu repertório. Cantando melhor e cada vez mais econômica no lírico, Gal se permite ser livre pelas melodias, como um rio que segue seu caminho. Talvez não precisasse gravar o bolero “Amor, Se Acalme”, de Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Cezar Mendes, que não acrescenta nada a obra, mas o acidente de percurso é corrigido pela canção seguinte, “Anuviar”, de Moreno Veloso (afilhado da cantora) e Domenico Lancellotti, cujo arranjo todo quebrado e recheado de sintentizador é uma gostosura sônica permeada de ruidinhos e crescentes.


Pode baixar sem medo que “Estratosférica” já ganha pela ótima foto de capa, com a cantora contornada por seu cabelo armado e ondulado, como se quisesse mostrar: estou descompromissada e não preciso mais provar nada a ninguém. Bethânia deve ter ficado com inveja (gargalhadas).