Senhores, olhem a cabeleira da baiana
O
novo disco da Maria das Graças Costa Penna Burgos, mais conhecida como Gal
Costa, não surpreende como o anterior, “Recanto”, mas é uma beleza de se
degustar. Ao ouvir a primeira faixa, você tem a impressão de que ela voltou aos
anos 1970 e lhe entregará canções com pegadas rock. Não se engane, apesar de
“Sem Medo, Nem Esperança” trazer referências da época do “Fa-Tal”, o resto do
trabalho é calmo.
A
baiana reuniu um apanhado de músicas de compositores que nunca tinha trabalhado
com canções de artistas já carimbados em álbuns passados (sim, há uma
composição de Caê entre elas). A faixa título é da cantora Céu em parceria com
Pupillo (Nação Zumbi) e Junio Barreto. Uma delícia. Tem também Milton
Nascimento e Criolo (“Dez Anjos”), irmãos Camelo (Espelho D`água”), Mallu
Magalhães (“Quando Você Olha Para Ela”) e Jonas Sá e Alberto Continentino
(“Casca”).
Com
a voz cada vez mais grave, os agudos já não precisam se evidenciar em seu
repertório. Cantando melhor e cada vez mais econômica no lírico, Gal se permite
ser livre pelas melodias, como um rio que segue seu caminho. Talvez não
precisasse gravar o bolero “Amor, Se Acalme”, de Arnaldo Antunes, Marisa Monte
e Cezar Mendes, que não acrescenta nada a obra, mas o acidente de percurso é
corrigido pela canção seguinte, “Anuviar”, de Moreno Veloso (afilhado da
cantora) e Domenico Lancellotti, cujo arranjo todo quebrado e recheado de
sintentizador é uma gostosura sônica permeada de ruidinhos e crescentes.
Pode
baixar sem medo que “Estratosférica” já ganha pela ótima foto de capa, com a
cantora contornada por seu cabelo armado e ondulado, como se quisesse mostrar:
estou descompromissada e não preciso mais provar nada a ninguém. Bethânia deve
ter ficado com inveja (gargalhadas).
