quarta-feira, 10 de junho de 2015

Viagens




Certas canções trazem um saudosismo que nem sei definir. A versão de Trac Trac, dos Paralamas, composta por Fito Paez, me remete a algo que já toquei, que já provei, mas que não sei se é quente, se é frio, não sei o gosto. É uma memória de amnésia, toda estranha e ao mesmo tempo saborosa. Tem um que de adolescência, de liberdade, de amor. Mas tem um pouco de solidão, de desentendimento, de sofrimento. Algo assim, ambíguo, com cenários litorâneos, gaivotas em voos rasantes ao mar, cheiro de peixe, tempo nublado, crianças jogando bola e um walkman. MTV, pornografia barata, noites sem dormir, pingado no bar, coxinha de frango, picolé de água, bicicleta Monareta.

O refrão, mantido no original, cantado em espanhol, com os vocais da Fernanda Abreu, o dedilhado distorcido da guitarra, o teclado acompanhando a melodia, tudo me leva a um sentimento único e inexplicável, um não-invento de algo já existente, no entanto, difícil de transcorrer em vogais, consoantes, sílabas. Qualquer palavra serve.


O coração bate por um liquidificador de emoções. Mas quais? Sei não. A letra me confunde, me acalma. Um enigma delicioso, como o timbre do contrabaixo, com forte marcação, reto, direto. O que importa? É o gostar e o turbilhão sentimental que a canção remete, como deve ser os relacionamentos, as amizades, os amores, as atmosferas, o trabalho, a vida. A minha. E a sua.