Possuo uma ignorância profunda pela música de Luiz Gonzaga do
Nascimento Júnior, o saudoso Gonzaguinha, filho do rei do baião, morto em um
acidente de carro na estrada entre Pato Branco e Francisco Beltrão, em 1991.
Sinto-me envergonhado por não ter estudado afinco as suas artimanhas cancioneiras.
Apenas conheço seus grandes sucessos, muitos entoados pela abelha-rainha Maria
Bethânia. Aliás, como não se emocionar com Grito de Alerta, música
primeiramente gravada por Aguinaldo Timóteo, encomendada pelo mesmo e que fala
sobre um caso de amor homossexual do cantor.
Estou me redimindo dessa culpa, a começar pela degustação do programa
Grandes Nomes – Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, transmitido e gravado em
1981 pela Rede Globo. O canal, sobretudo nas décadas de 1970 e 1980, era
especialista em registrar sensacionais apresentações musicais, a maioria
dirigida por Daniel Filho, fantástico nessa arte.
Com uma plateia repleta de artistas famosos, Luizinho entra em cena
acompanhado por uma banda que tem como músico convidado o pianista Wagner Tiso.
Ao iniciar com Não Dá Mais Pra Segurar (Explode Coração), já se pode perceber
que o show será repleto de emoção. O ápice é a entrada, repentinamente de seu
pai, Gonzagão. Sua voz firme, grave e forte, dá à apresentação o requinte
lacrimejante necessário. A canção Légua Tirana nunca caiu tão bem na história
de qualquer show.
Filho de uma cantora de coral, dançarina e mulher fogosa, Gonzaguinha
não teve o carinho que suplicava ao seu pai quando era criança. Foi criado
pelos padrinhos, morou em um morro, teve uma passagem rápida pelo tráfico de
drogas, se formou em Economia e lutou contra a ditadura. Todas essas passagens
mereceram uma história, o filme Gonzaga: De Pai Pra Filho. Não se trata de
nenhum clássico digno de adjetivos exagerados, mas é um longa-metragem sincero
a respeito desses dois santos da MPB. E é por isso que me envergonho de ainda
não ter devorado sua discografia. De quem? De ambos!
