quinta-feira, 19 de junho de 2014

Pai e Filho


Possuo uma ignorância profunda pela música de Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, o saudoso Gonzaguinha, filho do rei do baião, morto em um acidente de carro na estrada entre Pato Branco e Francisco Beltrão, em 1991. Sinto-me envergonhado por não ter estudado afinco as suas artimanhas cancioneiras. Apenas conheço seus grandes sucessos, muitos entoados pela abelha-rainha Maria Bethânia. Aliás, como não se emocionar com Grito de Alerta, música primeiramente gravada por Aguinaldo Timóteo, encomendada pelo mesmo e que fala sobre um caso de amor homossexual do cantor.

Estou me redimindo dessa culpa, a começar pela degustação do programa Grandes Nomes – Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, transmitido e gravado em 1981 pela Rede Globo. O canal, sobretudo nas décadas de 1970 e 1980, era especialista em registrar sensacionais apresentações musicais, a maioria dirigida por Daniel Filho, fantástico nessa arte.

Com uma plateia repleta de artistas famosos, Luizinho entra em cena acompanhado por uma banda que tem como músico convidado o pianista Wagner Tiso. Ao iniciar com Não Dá Mais Pra Segurar (Explode Coração), já se pode perceber que o show será repleto de emoção. O ápice é a entrada, repentinamente de seu pai, Gonzagão. Sua voz firme, grave e forte, dá à apresentação o requinte lacrimejante necessário. A canção Légua Tirana nunca caiu tão bem na história de qualquer show.


Filho de uma cantora de coral, dançarina e mulher fogosa, Gonzaguinha não teve o carinho que suplicava ao seu pai quando era criança. Foi criado pelos padrinhos, morou em um morro, teve uma passagem rápida pelo tráfico de drogas, se formou em Economia e lutou contra a ditadura. Todas essas passagens mereceram uma história, o filme Gonzaga: De Pai Pra Filho. Não se trata de nenhum clássico digno de adjetivos exagerados, mas é um longa-metragem sincero a respeito desses dois santos da MPB. E é por isso que me envergonho de ainda não ter devorado sua discografia. De quem? De ambos!