quinta-feira, 26 de junho de 2014

Identificação Sentimental - Roberto Carlos - Década de 1970


Chato, amado, romântico, cafona, brega, genial, supersticioso, rock, afoito, religioso, malandro, amante e meloso. Não importa a quantidade de adjetivos, nunca serão suficientes para descrever o compositor Roberto Carlos. Falem o que falar, a década de 1970 foi produtiva e inspirada na discografia do Rei. O icônico álbum, com sua face aquarelada, o primeiro de uma fase em que ele abraçou com lindeza o romantismo, tem no mínimo quatro clássicos de sua extensa qualidade de hitmaker.

Tudo inicia com a música mais perfeita de sua carreira, cuja letra desenhada pelo tremendão Erasmo Carlos, é considerada até hoje o hino da dor de cotovelo. Detalhes é puro lirismo, pura poesia, pura descrição, pura narração e pura verdade. Com todo respeito a Tom e Vinícius, mas foram os Carlos que conseguiram a perfeição. Só por ela, vale o disco inteiro. Mas aí vem um proto-blues do Caetano Veloso, que dispensa apresentação, que dilacera pela delicadeza em retratar o maior sentimento, novamente, partido e incompreendido.

O álbum, para deleite de nossos ouvidos, ainda tem Traumas, um dos mais belos conselhos já registrados por Roberto e Erasmo. Sua descrição é insuperável, apresentando os velhos ditames de um pai a um filho. A letra nos ganha na primeira estrofe: “Meu pai um dia me falou pra que eu nunca mentisse, mas ele também se esqueceu de me dizer a verdade”.  

Além dessas, é no degustar de cada faixa que aparecem lindezas como Todos Estão Surdos (que tem um conteúdo político, sim, apesar dos contradizeres) e Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos, composta especialmente em homenagem a Caetano Veloso, uma dedicada música o qual o conteúdo hoje conhecemos como “bromance”. Ainda bem que os tempos passaram e esse negócio de música de viado não consiste mais, apesar do preconceito imperar, para infelicidade de todos, inclusive dos preconceituosos.


E, apesar do nosso senhor Roberto Carlos ter se tornado um chatonildo, é bom lembrar que o cara prestou inúmeros favores benéficos à música brasileira. Se hoje sua relevância é mencionada apenas no especial de fim de ano da Globo, volte seus olhos para as décadas passadas, pois foram lá que ele pariu sua benfeitoria.