Chato, amado, romântico, cafona, brega, genial, supersticioso, rock,
afoito, religioso, malandro, amante e meloso. Não importa a quantidade de
adjetivos, nunca serão suficientes para descrever o compositor Roberto Carlos.
Falem o que falar, a década de 1970 foi produtiva e inspirada na discografia do
Rei. O icônico álbum, com sua face aquarelada, o primeiro de uma fase em que
ele abraçou com lindeza o romantismo, tem no mínimo quatro clássicos de sua
extensa qualidade de hitmaker.
Tudo inicia com a música mais perfeita de sua carreira, cuja letra
desenhada pelo tremendão Erasmo Carlos, é considerada até hoje o hino da dor de
cotovelo. Detalhes é puro lirismo, pura poesia, pura descrição, pura narração e
pura verdade. Com todo respeito a Tom e Vinícius, mas foram os Carlos que
conseguiram a perfeição. Só por ela, vale o disco inteiro. Mas aí vem um
proto-blues do Caetano Veloso, que dispensa apresentação, que dilacera pela
delicadeza em retratar o maior sentimento, novamente, partido e incompreendido.
O álbum, para deleite de nossos ouvidos, ainda tem Traumas, um dos
mais belos conselhos já registrados por Roberto e Erasmo. Sua descrição é
insuperável, apresentando os velhos ditames de um pai a um filho. A letra nos
ganha na primeira estrofe: “Meu pai um dia me falou pra que eu nunca mentisse,
mas ele também se esqueceu de me dizer a verdade”.
Além dessas, é no degustar de cada faixa que aparecem lindezas como
Todos Estão Surdos (que tem um conteúdo político, sim, apesar dos
contradizeres) e Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos, composta especialmente
em homenagem a Caetano Veloso, uma dedicada música o qual o conteúdo hoje
conhecemos como “bromance”. Ainda bem que os tempos passaram e esse negócio de
música de viado não consiste mais, apesar do preconceito imperar, para
infelicidade de todos, inclusive dos preconceituosos.
E, apesar do nosso senhor Roberto Carlos ter se tornado um chatonildo,
é bom lembrar que o cara prestou inúmeros favores benéficos à música
brasileira. Se hoje sua relevância é mencionada apenas no especial de fim de
ano da Globo, volte seus olhos para as décadas passadas, pois foram lá que ele
pariu sua benfeitoria.
