O cavalgar é lento, praticando um trotear por campos não explorados.
Mas, Rodrigo Amarante não está sozinho: segue acompanhado de uma inquietude
misteriosa que nos é apresentada em 11 faixas. Seu primeiro disco solo tem toda
aquela esperteza em forma de jogos versais que o tornou um compositor mais
sagaz do que o Marcelo Camelo. E a produção deixa tudo mais saboroso por causa
das referências e mixagem com sacadas de décadas passadas. A voz meio bêbada,
apesar de contida, continua lá, exalando aquele álcool da noite retrasada, mas
ainda impregnado nas cordas.
Amarante surpreende, quando a maioria esperava o contrário, já que o
atraso do lançamento do álbum estaria virando chacota por se tratar de um
material aquém. Nada disso. Isso acabou se tornando aliado. Primeiro, por causa
da grande expectativa, segundo, o cara pode mantê-las em banho-maria, deixando
o prato ainda mais apetitoso. Sem falar que, ao vivo, espera-se, portanto,
ótimas apresentações, pois o ruivo pode crescer musicalmente em uma turnê pelo
estrangeiro com o não menos agradável Devendra Banhart. 2013 é o ano de “Cavalo”?
Não, mas com certeza é um ano bem particular para o Amarante.
O álbum
O bicho pega docemente com “Nada em Vão”, de uma delicadeza que causa
estranheza àqueles que esperavam uma surf-mezzo-music, como “Condicional”, do
disco “4”, do Los Hermanos. O caminhar prossegue com a batida reta de bateria
em “Hourglass”, de levada lindamente pop, repleta de filtros e uma linha de
baixo espertíssima. Aí vem “Mon Nom”, cuja letra em francês desperta sorrisos e
vem acompanhada de dedilhados crescentes.
Até aí, Amarante já gastou seu português, seu inglês e seu francês e
eis que surge uma lamentação tão foda quanto “Os Pássaros”. “Irene” é o seu
lamento sertanejo, com vocal quase sussurrado e aquela letra que você sabe que
possui o padrão rodrigoamaranteano. Mas o pranto logo dá licença para a
brasileira-suingue-sangue-bom “Maná”, que é perfeitinha para os gringos de
plantão. Eis que, quando você acha que o trabalho vai deslanchar para o
animado, o ruivo nos presenteia com “Fall Asleep” que, com certeza, causará
bocejos. E não termina aí a calmaria, pois ela vem acompanhada de “The Ribbon”,
de início climático e enigmático.
A delicadeza prossegue e, sério, não cansa. “O Cometa”, talvez a
melhor faixa do trabalho, é uma linda homenagem a um amigo do Amarante que
faleceu recentemente. E o dedilhar dos pianos segue com “Cavalo”, a faixa que
dá título, que forma imagens na mente do ouvinte, como se fosse de um filme da
década de 30. “I’m Ready” aparece na sequencia, com percussão ao fundo, como se
tivesse sido gravado em um velho porão de uma casa abandonada. “Tardei” encerra
o galopar, repleta de contemplações em seu texto, finalizando um cavalgar em um
horizonte de possibilidades, mesmo que lentíssimo.
