quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Impressões - "Cavalo" - Rodrigo Amarante


O cavalgar é lento, praticando um trotear por campos não explorados. Mas, Rodrigo Amarante não está sozinho: segue acompanhado de uma inquietude misteriosa que nos é apresentada em 11 faixas. Seu primeiro disco solo tem toda aquela esperteza em forma de jogos versais que o tornou um compositor mais sagaz do que o Marcelo Camelo. E a produção deixa tudo mais saboroso por causa das referências e mixagem com sacadas de décadas passadas. A voz meio bêbada, apesar de contida, continua lá, exalando aquele álcool da noite retrasada, mas ainda impregnado nas cordas.  
Amarante surpreende, quando a maioria esperava o contrário, já que o atraso do lançamento do álbum estaria virando chacota por se tratar de um material aquém. Nada disso. Isso acabou se tornando aliado. Primeiro, por causa da grande expectativa, segundo, o cara pode mantê-las em banho-maria, deixando o prato ainda mais apetitoso. Sem falar que, ao vivo, espera-se, portanto, ótimas apresentações, pois o ruivo pode crescer musicalmente em uma turnê pelo estrangeiro com o não menos agradável Devendra Banhart. 2013 é o ano de “Cavalo”? Não, mas com certeza é um ano bem particular para o Amarante.

O álbum
O bicho pega docemente com “Nada em Vão”, de uma delicadeza que causa estranheza àqueles que esperavam uma surf-mezzo-music, como “Condicional”, do disco “4”, do Los Hermanos. O caminhar prossegue com a batida reta de bateria em “Hourglass”, de levada lindamente pop, repleta de filtros e uma linha de baixo espertíssima. Aí vem “Mon Nom”, cuja letra em francês desperta sorrisos e vem acompanhada de dedilhados crescentes.
Até aí, Amarante já gastou seu português, seu inglês e seu francês e eis que surge uma lamentação tão foda quanto “Os Pássaros”. “Irene” é o seu lamento sertanejo, com vocal quase sussurrado e aquela letra que você sabe que possui o padrão rodrigoamaranteano. Mas o pranto logo dá licença para a brasileira-suingue-sangue-bom “Maná”, que é perfeitinha para os gringos de plantão. Eis que, quando você acha que o trabalho vai deslanchar para o animado, o ruivo nos presenteia com “Fall Asleep” que, com certeza, causará bocejos. E não termina aí a calmaria, pois ela vem acompanhada de “The Ribbon”, de início climático e enigmático.

A delicadeza prossegue e, sério, não cansa. “O Cometa”, talvez a melhor faixa do trabalho, é uma linda homenagem a um amigo do Amarante que faleceu recentemente. E o dedilhar dos pianos segue com “Cavalo”, a faixa que dá título, que forma imagens na mente do ouvinte, como se fosse de um filme da década de 30. “I’m Ready” aparece na sequencia, com percussão ao fundo, como se tivesse sido gravado em um velho porão de uma casa abandonada. “Tardei” encerra o galopar, repleta de contemplações em seu texto, finalizando um cavalgar em um horizonte de possibilidades, mesmo que lentíssimo.