A Ângela Ro Ro já foi o Rimbaud tupiniquim. Com a sua poesia crua, de
assuntos dessabores, de amores errados, de dor de cotovelo e muita
personalidade, ela embalou inúmeros corações despedaçados, sobretudo nas
décadas de 1970 e 1980. Seu repertório ainda é admirado pelas gerações. E novos
cantores estão redescobrindo o acervo dela.
O DJ Zé Pedro, em parceria com a editora Joia Moderna, convidou uma
galera de responsa para revisitar a obra da cantora. A única condição era de
que apenas homens participassem da empreitada. Assim foi parido “Coitadinha Bem
Feito – As Canções de Ângela Ro Ro”, que tem no elenco emergentes da MPB de
testosterona, mas sensível e não machista. São 17 artistas que transitam
belamente oferecendo os seus talentos para músicas como “Amor Meu Grande Amor”
(Lucas Santtana), “Renúncia” (Lira), “Só Nos Resta Viver” (Romulo Fróes) e “Mares
da Espanha” (Thiago Pethit).
O resultado é de um frescor e de um lirismo personalíssimo,
principalmente pelas interpretações de “Abre o Coração”, feita por Gui Amabis, “Não
Há Cabeça”, lindamente cantada por Pélico e “Me Acalmo Danando”, chorada
emocionalmente por um Hélio Flanders que entrega o melhor anseio.
Conciso até o caroço da boa vontade, apesar dos trabalhos solos dos
participantes serem díspares, o álbum pode ser baixado, gratuitamente e
legalmente, pelo site www.coitadinhabemfeito.com.br.
Ótimo tributo a essa que é uma das mais sagazes compositoras do país,
que tem no barraco, no desamor e na cachaça a sua maior inspiração. Hoje,
Ângela Ro Ro não faz nenhuma questão de viver sob a alcunha que criou, mas
continua com o mesmo talento de outrora, talvez até melhor. Mas como a MPB
sobrevive por causa do passado, nada melhor do que esse trabalho para aprovar a
sua generosidade aos ouvidos dos atentos. Nem é preciso lembrar que Ro Ro foi
namorada da Zizi Possi e responsável por polêmicas que deixariam a Amy
Winehouse no chinelo.
Leonardo Handa
