quinta-feira, 9 de maio de 2013

Impressões – Coitadinha Bem Feito – As Canções de Ângela Ro Ro



A Ângela Ro Ro já foi o Rimbaud tupiniquim. Com a sua poesia crua, de assuntos dessabores, de amores errados, de dor de cotovelo e muita personalidade, ela embalou inúmeros corações despedaçados, sobretudo nas décadas de 1970 e 1980. Seu repertório ainda é admirado pelas gerações. E novos cantores estão redescobrindo o acervo dela.

O DJ Zé Pedro, em parceria com a editora Joia Moderna, convidou uma galera de responsa para revisitar a obra da cantora. A única condição era de que apenas homens participassem da empreitada. Assim foi parido “Coitadinha Bem Feito – As Canções de Ângela Ro Ro”, que tem no elenco emergentes da MPB de testosterona, mas sensível e não machista. São 17 artistas que transitam belamente oferecendo os seus talentos para músicas como “Amor Meu Grande Amor” (Lucas Santtana), “Renúncia” (Lira), “Só Nos Resta Viver” (Romulo Fróes) e “Mares da Espanha” (Thiago Pethit).

O resultado é de um frescor e de um lirismo personalíssimo, principalmente pelas interpretações de “Abre o Coração”, feita por Gui Amabis, “Não Há Cabeça”, lindamente cantada por Pélico e “Me Acalmo Danando”, chorada emocionalmente por um Hélio Flanders que entrega o melhor anseio.

Conciso até o caroço da boa vontade, apesar dos trabalhos solos dos participantes serem díspares, o álbum pode ser baixado, gratuitamente e legalmente, pelo site www.coitadinhabemfeito.com.br.

Ótimo tributo a essa que é uma das mais sagazes compositoras do país, que tem no barraco, no desamor e na cachaça a sua maior inspiração. Hoje, Ângela Ro Ro não faz nenhuma questão de viver sob a alcunha que criou, mas continua com o mesmo talento de outrora, talvez até melhor. Mas como a MPB sobrevive por causa do passado, nada melhor do que esse trabalho para aprovar a sua generosidade aos ouvidos dos atentos. Nem é preciso lembrar que Ro Ro foi namorada da Zizi Possi e responsável por polêmicas que deixariam a Amy Winehouse no chinelo.

Leonardo Handa