segunda-feira, 14 de março de 2011

“Collapse Into Now” – R.E.M.


A banda de Michael Stipe, o R.E.M., está envelhecendo. O vago comentário tem o sentido pejorativo fortemente calcado, afinal, no mais puro clichê, dizem que conforme se passam os anos, mais sabedoria é adquirida. Se for verdade, talvez alguns monstros do pop/rock tenham errado. No caso da banda de Athens, é mais do que isso.
Recentemente o grupo lançou o álbum “Collapse Into Now”, o décimo quinto de uma bela carreira repleta de clássicos, como “Murmur”, “Document” e talvez a obra-prima do trio, “Automatic For The People”, o disco que ninou os sonhos do Kurt Cobain.
A banda sempre prestigiou da crítica especializada, que teceu os mais sensíveis textos a favor da música pop referenciando o R.E.M. ao Olimpo. De uns anos para cá, os jornalistas – que de acordo com o Lou Reed, não são gente – desagradaram dos últimos trabalhos dos comparsas Michael Stipe, Peter Buck e Mike Mills. O questionável “Around The Sun”, de 2004, foi fuzilado pelas palavras de muitos formadores de opinião. De fato, o disco carece de momentos louváveis que o R.E.M. já soube proporcionar, no entanto, alguns partiram para a ignorância.
Em 2008, em uma bacana mudança de direção, deixando de lado as melodias exageradas e os arranjos eletrônicos, o grupo chamou o produtor Jacknife Lee para acrescentar rapidez em suas canções. O trio então pariu “Accelerate”, que se não é brilhante, jogou uma nova luz no som dos norte-americanos. E agora a banda continua na mesma direção, com o mesmo produtor, porém, mais consistentes.

Agora em colapso
A gostosura do trabalho inicia com “Discoverer”, com guitarras altas, mas não barulhentas, na introdução, e ótimos versos de Michael Stipe. A canção não remete às canções compostas outrora pelo grupo, o que é excelente. Mas acaba por aí. Apesar das novas faixas terem frescor, pitadas de referências são salpicadas no decorrer de “Collapse Into Now”. Não entendam como depreciação, já que o disco é superior ao anterior, sobretudo às parcerias de Eddie Vedder, que participa da composição e dos vocalizes de “It Happened Today”, e da nostálgica “Blue”, que conta com uma Patti Smith sensível e direta, emoldurando a letra forte da declamação do vocalista. Essa é a segunda vez que a poetisa participa de um disco do R.E.M. Ela já havia contribuído em “E-bow The Letter”, do “New Adventures In Hi-Fi”.
“Blue” pode ser uma boa síntese de “Collapse Into Now”. O seu arranjo lembra muito “Country Feedback”, do bacana “Out Of Time”. E é justamente isso que acontece: cada canção possui algum detalhe que remete aos melhores momentos ousados pelo grupo, tanto da fase college radio dos anos 1980 como do período modernoso dos anos 2000.
O álbum deixa uma sensação estranha de velho e novo, mas sem a crise dos anos. O R.E.M. está envelhecendo, com dignidade, voltando-se ao passado, pertencendo ao presente e ainda traçando o futuro.

Leonardo Handa – Jornalista