Se o artista desperta grande atenção com o primeiro álbum deve ficar
impregnado nele a ânsia de se superar, de se surpreender e de se inovar. Não
apenas ele quer isso, mas, sobretudo, seus fãs. Por isso o aguardar de um
segundo trabalho movimenta os alicerces dos envolvidos: compositor, produtor,
mercado, fãs, jornalistas, consumidores, bares, casa de shows, empresários,
gravadora e mídias sociais.
O cantor Cícero – penso eu – nem sequer imaginava o sucesso que “Canções
de Apartamento”, seu primeiro disco solo, iria alcançar. Com singelas canções,
o artista conseguiu apaixonar muitos ouvintes, inclusive, vários órfãos do Los
Hermanos. Sua delicadeza, suas letras fáceis, seu violão e seu cantar
sussurrado despertavam e devolviam o prazer de ouvir música. Particularmente, o
trabalho tem sentidos extremamente especiais e pessoais. Ele foi lançado em
2011, ano em que minha sobrinha nasceu. O nome dela: Cecília. Entre as músicas
de “Canções de Apartamento”, uma remete diretamente a ela, lógico que num contexto
particular (somente) meu e próprio. “Cecília e os Balões” é de uma
significância absurda que me fabrica lágrimas.
Eis que chegou o segundo trabalho do cantor. Novamente, com
coincidências pessoais. Lançado no dia 31 de agosto, dia do meu aniversário e
também da minha sobrinha (que foi tão legal que deixou para nascer na mesma
data de seu padrinho), o disco se chama “Sábado”. Que dia da semana foi 31 de
agosto? É claro que o artista, estrategicamente, calculou isso. E, como
qualquer fim de tarde de sábado, é bem despretensioso. Se no primeiro trabalho
o Cícero conquistava todo mundo já no primeiro escutar, neste o ouvinte precisará
se esforçar.
“Sábado” é preguiçoso. A primeira faixa, “Fuga n°. 3 da Rua Nestor”, é
arrastada que dói. Isso é uma critica destrutiva? De maneira alguma. Certas
coisas precisam ser assim para alcançar o destino, seja qual for. Mas, muitas
pessoas não entendem ou preferem nem analisar tais fatos e acontecimentos. Talvez,
dessa forma, nem vão prestar atenção na seguinte, chamada “Capim-limão”, que
não remete em nada a poesia do disco de outrora.
Grande parte das letras do segundo passeio solo do Cícero desfila pelo
concretismo. A estrutura lembra muito os textos do Arnaldo Antunes fase “O
Silêncio”. Além disso, o cantor está mais experimental. Alguns arranjos,
inclusive, podem incomodar, como os casiotones de “Fuga n°. 4”.
É bonito acompanhar um artista que não deseja a zona de conforto. Se
você amou “Canções de Apartamento”, caso não tenha paciência, é possível que
odeie “Sábado”, assim como vários detestaram “Kid A” após “Ok Computer”. E,
caso não tenha apego sentimental e transmita isso diretamente ao pessoal, é
certeza de que vai querer que o domingo venha logo.
Leonardo Handa
