segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Impressões - "Sábado" - Cícero


Se o artista desperta grande atenção com o primeiro álbum deve ficar impregnado nele a ânsia de se superar, de se surpreender e de se inovar. Não apenas ele quer isso, mas, sobretudo, seus fãs. Por isso o aguardar de um segundo trabalho movimenta os alicerces dos envolvidos: compositor, produtor, mercado, fãs, jornalistas, consumidores, bares, casa de shows, empresários, gravadora e mídias sociais.

O cantor Cícero – penso eu – nem sequer imaginava o sucesso que “Canções de Apartamento”, seu primeiro disco solo, iria alcançar. Com singelas canções, o artista conseguiu apaixonar muitos ouvintes, inclusive, vários órfãos do Los Hermanos. Sua delicadeza, suas letras fáceis, seu violão e seu cantar sussurrado despertavam e devolviam o prazer de ouvir música. Particularmente, o trabalho tem sentidos extremamente especiais e pessoais. Ele foi lançado em 2011, ano em que minha sobrinha nasceu. O nome dela: Cecília. Entre as músicas de “Canções de Apartamento”, uma remete diretamente a ela, lógico que num contexto particular (somente) meu e próprio. “Cecília e os Balões” é de uma significância absurda que me fabrica lágrimas.

Eis que chegou o segundo trabalho do cantor. Novamente, com coincidências pessoais. Lançado no dia 31 de agosto, dia do meu aniversário e também da minha sobrinha (que foi tão legal que deixou para nascer na mesma data de seu padrinho), o disco se chama “Sábado”. Que dia da semana foi 31 de agosto? É claro que o artista, estrategicamente, calculou isso. E, como qualquer fim de tarde de sábado, é bem despretensioso. Se no primeiro trabalho o Cícero conquistava todo mundo já no primeiro escutar, neste o ouvinte precisará se esforçar.

“Sábado” é preguiçoso. A primeira faixa, “Fuga n°. 3 da Rua Nestor”, é arrastada que dói. Isso é uma critica destrutiva? De maneira alguma. Certas coisas precisam ser assim para alcançar o destino, seja qual for. Mas, muitas pessoas não entendem ou preferem nem analisar tais fatos e acontecimentos. Talvez, dessa forma, nem vão prestar atenção na seguinte, chamada “Capim-limão”, que não remete em nada a poesia do disco de outrora.
Grande parte das letras do segundo passeio solo do Cícero desfila pelo concretismo. A estrutura lembra muito os textos do Arnaldo Antunes fase “O Silêncio”. Além disso, o cantor está mais experimental. Alguns arranjos, inclusive, podem incomodar, como os casiotones de “Fuga n°. 4”.


É bonito acompanhar um artista que não deseja a zona de conforto. Se você amou “Canções de Apartamento”, caso não tenha paciência, é possível que odeie “Sábado”, assim como vários detestaram “Kid A” após “Ok Computer”. E, caso não tenha apego sentimental e transmita isso diretamente ao pessoal, é certeza de que vai querer que o domingo venha logo. 

Leonardo Handa