O Brasil aumentou em cinco vezes a sua produção de lixo entre os anos
de 2010 e 2014. Esse dado é o mais recente da Associação Brasileira de Empresas
de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). O estudo da entidade, “Panorama
dos Resíduos Sólidos no Brasil”, aponta que quase nada se avançou com relação a
períodos anteriores.
O diretor-executivo da Abrelpe, Carlos Silva Filho, comenta que isso
aconteceu devido ao descompasso do crescimento populacional do país - algo em
torno de 6% - e a geração de lixo, que ficou em 29% durante os quatro anos
analisados. “A geração de resíduos está totalmente atrelada ao crescimento
econômico. O aumento do lixo é reflexo de anos de bonança na economia. Tivemos
uma curva ascendente maior até 2012. Agora, observamos um crescimento bem
maior, reflexo da estagnação”, disse Filho.
O país, apesar de possuir leis bem elaboradas sobre resíduos, ainda
sofre com serviços precários. Atualmente, os municípios necessitam ter aterros
sanitários adequados. De acordo com a técnica em meio ambiente, Cláudia Lins,
somente seis Estados (Maranhão, Pernambuco, Sergipe, Rio de Janeiro, São Paulo
e Santa Catarina) têm finalizado os seus planos de resíduos sólidos. “Nem a
capital do país dá exemplo. Brasília é um patrimônio Cultural da Humanidade e
tem o Lixão da Estrutural, o maior da América Latina, onde sobrevivem mais de
dois mil catadores. Fica ao lado do Parque Nacional da cidade, cujas águas
abastecem mais de 20% da população. Atualmente, a política nacional é investir
em obras visíveis, como estradas, e desprezar o tratamento de resíduos. Ninguém
está preocupado com o local para onde vai o lixo e o que será feito com ele”,
destaca Cláudia.
Recentemente, após a realização de um encontro de jovens, em Pato
Branco, na rua Manoel Ribas, veio a discussão pelas redes sociais e imagens de
WhatsApp, o acúmulo de lixo deixado no local após o evento, organizado por
estudantes da UTFPR. Opiniões negativas foram as que mais se destacaram, com
classificações pejorativas, como “bando de porcos” e “arruaceiros”. Só que a
visão limitada de algumas pessoas não percebe que o problema é muito maior do
que isso. A questão é a produção cada vez menos consciente de resíduos que são
jogados no meio ambiente.
Em qualquer tipo de aglomeração de pessoas, seja um show, uma
Expopato, encontro de motos, festa da capela, se consomem produtos que são
depositados nas lixeiras após o uso. Infelizmente, não apenas nelas, mas sim,
no chão. Depois de uma apresentação de um artista, já foram conferir como fica,
por exemplo, o gramado do Parque de Exposições? Tão pior quanto os registros
divulgados e discutidos pelos canais de conversas on-line. De nenhuma maneira
isso se trata de uma justificativa para o que vem acontecendo quando o evento é
realizado em frente ao estabelecimento Devereda. O problema é a falta de
percepção das pessoas em não enxergarem que já jogaram papel de bala, bituca de
cigarro, embalagem de chocolate comido pelo filho, recibo de banco, copo
plástico ou garrafas no chão. Essa falta de espelho acompanhada de um discurso
de ódio é a sensibilização mais falsa e irritante que surge no meio
cibernético, cada vez mais entupido de horrores, de falácias e de impropriedades
sócio-perceptivas.
A diferença – e única – é que em eventos ali acima citados existe uma
empresa ou entidade que é contratada para recolher toda a “porquice” deixada
por nós, seres humanos pensantes e felizes de estarmos no topo de uma cadeia de
outros animais, que hoje comemos repletos de elementos químicos de conservação
e até de papelão em sua (de)composição. E esse é o mesmo lixo que segue para o
aterro sanitário, independente da sua forma de produção, que acabou sendo
recolhido pelo departamento de limpeza e não matou ninguém. Ao menos por
enquanto, porque o seu acúmulo junto a natureza, poluirá ainda mais a área a
qual foi destinada o fim dessa desenfreada consumação que, infelizmente, é
necessária para gerar a comercialização e, assim, o emprego, o aumento de
impostos, a continuação do mercado sistemático e econômico que temos hoje e que
continuará para sempre.
Mas, o que ficará lembrado, é como esse tipo de evento prejudica as
veias de uma cidade. Já visitaram a Trajano Reis ou a São Francisco, em
Curitiba, depois de uma noite de sexta-feira? Acontece a mesma coisa, porém, é
a semana toda, de todos os meses do ano.
O que muitos não verificaram, por não terem tido estado lá na noite do
encontro na Manoel Ribas, foi a atitude de pouquíssimas pessoas que tentaram
recolher tudo o que foi produzido, juntando como podiam as garrafas de bebidas
e os copos plásticos. Esses indivíduos, louvavelmente, deixaram montes de
resíduos próximos às lixeiras da rua e do container de reciclagem, cujas
imagens entupiram a memória dos WhatsApp da vida, com o objetivo de facilitar o
recolhimento dos profissionais que trabalham na limpeza pública. Adiantou? Não,
apesar da dedicação, e comprovou aquele famigerado ditado popular: “uma
andorinha não faz verão”.
Só que foram justamente esses registros que despertaram a ira da
população, ou ao menos, uma parte dela. Em grupos de imprensa foram as que
geraram discursos de horrores dos nobres comunicadores, com um vazio imenso que
não serviria nem para preencher o jornal, o programa de rádio ou televisão mais
sensacionalista do mundo. E essa será a pauta para o decorrer da semana, acompanhado
de dizeres pífios, de opiniões de um jornal que tem profissionais mais capazes
do que fazem, de TVs guiadas pela intuição abstrata, por assessores de imprensa
preguiçosos e viciados na respiração comunicacional do lugar-comum e de rádios
que fazem um julgamento derretido, porque é o que vai gerar mais manifestação
popular. Essa visão míope do abrangente também deveria ser recolhida em aterros
sanitários em perfeito acordo com a legislação. Isso que nem foi citada a ação
policial que desviou duvidosamente o fluxo do tráfego da Avenida Tupi para a
Manoel Ribas, tão quanto outro tipo de poluição que atrapalha os moradores dos
arredores: a sonora (esses dois tópicos ficarão para uma vindoura
oportunidade).
Enquanto isso, a ampliação do campo de visão perceptivo, de uma
análise mesmo que simplória, se resume a um evento que incomoda pela produção
do lixo (entre outros aspectos citados superficialmente). O mesmo que está em
sua casa, em sua empresa, mas dentro de uma lixeira, que acabará tendo o mesmo
destino do encontrado na rua, da mesma forma e produção desenfreada que é
aterrado num país que gasta cada vez mais e tem a consciência de menos. Afinal,
como mostra a Abrelpe, se a cada ano aumentar a produção em 29%, estaremos
fadados a viver num ambiente como o da ficção, como o desenho “Wall-E”, da
Pixar, quando robôs ficaram na Terra para limpar toda a porcaria que não teve
destino, nem reciclagem correta, e os seres humanos foram viver no espaço e
engordaram porque desaprenderam a andar e viveram à mercê dos favores de
máquinas, essas sim, inteligentes que aprenderam com os erros dos homens.
Leonardo Handa, com fonte do jornal O Globo