sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Impressões – “Amor”




O definhar do amor, segundo o diretor austríaco Michael Haneke, é a morte. Para ele, o sentimento não acaba com uma traição, com uma briga idiota sobre a toalha molhada, sobre os cigarros, sobre o sexo, sobre o encontrar outro alguém. Sua mais nova obra, chamada “Amor”, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro deste ano e lançado agora nos cinemas brasileiros, é aterrorizantemente ótimo, daqueles filmes que dão aquela sensação de estômago vazio. A cada diálogo dos protagonistas Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva você suspira várias sensações, do admirar do casamento deles à navalha que corta as narinas quando a parte feminina tem um derrame.
O amor exacerbado entre eles é aquele perfeito (sim, ele existe), e está todo expresso no apartamento em que moram, em cada detalhe pessoal, em cada nota de música erudita que apreciam catolicamente, em cada carícia não exagerada, mas lindamente doce.
Todo o sabor da aposentadoria que muitos não conseguem aproveitar em perfeita harmonia, pelo casal de “Amor” é algo alcançado com extrema facilidade. Por quê? Simples, eles se amam. E tudo o que, descrito neste momento, lhe parece açucarado demais, com toda aquela melosidade permitida, não se engane, através da direção de Michael Haneke nada fica óbvio, nem uma pomba querendo entrar pela janela (quando você ver o filme irá entender essa descrição).
Depois do irretocável “A Fita Branca”, o austríaco consegue florescer mais uma pequena sinfonia perfeita, como as mesmas ouvidas em “Amor”. De acordo com ele, somente a morte estraçalha o sentimento, como um conto modernizado de Romeu e Julieta que, ao contrário do casal do longa-metragem, precisaram do suicídio para eternizar o que sentiam.

Leonardo Handa