O definhar do amor, segundo o diretor austríaco Michael Haneke, é a
morte. Para ele, o sentimento não acaba com uma traição, com uma briga idiota
sobre a toalha molhada, sobre os cigarros, sobre o sexo, sobre o encontrar
outro alguém. Sua mais nova obra, chamada “Amor”, indicado ao Oscar de Melhor
Filme Estrangeiro deste ano e lançado agora nos cinemas brasileiros, é
aterrorizantemente ótimo, daqueles filmes que dão aquela sensação de estômago
vazio. A cada diálogo dos protagonistas Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle
Riva você suspira várias sensações, do admirar do casamento deles à navalha que
corta as narinas quando a parte feminina tem um derrame.
O amor exacerbado entre eles é aquele perfeito (sim, ele existe), e
está todo expresso no apartamento em que moram, em cada detalhe pessoal, em
cada nota de música erudita que apreciam catolicamente, em cada carícia não
exagerada, mas lindamente doce.
Todo o sabor da aposentadoria que muitos não conseguem aproveitar em
perfeita harmonia, pelo casal de “Amor” é algo alcançado com extrema
facilidade. Por quê? Simples, eles se amam. E tudo o que, descrito neste
momento, lhe parece açucarado demais, com toda aquela melosidade permitida, não
se engane, através da direção de Michael Haneke nada fica óbvio, nem uma pomba
querendo entrar pela janela (quando você ver o filme irá entender essa
descrição).
Depois do irretocável “A Fita Branca”, o austríaco consegue florescer
mais uma pequena sinfonia perfeita, como as mesmas ouvidas em “Amor”. De acordo
com ele, somente a morte estraçalha o sentimento, como um conto modernizado de
Romeu e Julieta que, ao contrário do casal do longa-metragem, precisaram do
suicídio para eternizar o que sentiam.
Leonardo Handa